X
Ah! A caridade. Palavra tão falada
pelos espíritas e tão pouco praticada em toda sua extensão pelos mesmos. Grande
parte dos espíritas, até por serem da classe média ou da classe média alta, -
ou alguém conhece algum centro espírita frequentado por pessoas da classe D ou
E, de chinelos de dedo? – tem praticado a caridade do dar e não a caridade do
dar-se, por ser a primeira, embora tenha o seu mérito, ser a mais facil para
eles e o dar-se, nem sempre ser tão facil e envolver certos preconceitos e
atavismos dos quais ainda não se libertou. Em outras palavras, percebe-se nos
centros espíritas e nos proprios espiritas, muita caridade material nem sempre
acompanhada da caridade moral.
E quem diz que a caridade moral é
a mais dificil de ser praticada é um espírito que se comunicou nas paginas de O
Evangelho Segundo o Espiritismo, chamado de Irmã Rosalia. Em certo momento ele
diz:
“(...) Quero que compreendais bem o que deve ser a caridade moral, que todos
podem praticar, que materialmente
nada custa, e que não obstante é a mais difícil de se por em prática.
A caridade moral consiste em vos
suportardes uns aos outros, o que menos fazeis nesse mundo inferior, em que
estais momentaneamente encarnados. Há um grande mérito, acreditai, em saber
calar para que outro mais tolo possa falar: isso é também uma forma de caridade.
Saber fazer-se de surdo, quando uma palavra irônica escapa de uma boca
habituada a caçoar; não ver o sorriso desdenhoso com que vos recebem pessoas
que, muitas vezes erradamente, se julgam superiores a vós, quando na vida
espírita, a única verdadeira,
está às vezes muito abaixo: eis um merecimento que não é de humildade, mas de
caridade, pois não se incomodar com as faltas alheias é caridade moral.
Essa caridade, entretanto, não deve
impedir que se pratique a outra. Pelo contrário: pensai, sobretudo, que não
deveis desprezar o vosso semelhante;(...)”
Mas, a questão é que os
espíritas, que deveriam praticar mais a caridade moral, já que elegeram a
caridade como sua bandeira e se auto-elegeram como os caridosos por excelência,
são os que menos praticam a caridade moral, ou seja, não são compreensivos,
indulgentes, nem verdadeiramente brandos e nem pacíficos, principalmente quando
estão despidos de suas capas de espíritas e longe das testemunhas do centro
espírita que freqüentam e os conhecem. E quando perante outro espírita, que
tenha idéias próprias, mormente se for a respeito da própria doutrina, do
movimento espírita ou sobre algum médium ou espírito famoso do qual o primeiro
espírita seja idolatra, este deixa cair a sua máscara, e mostra toda sua não caridade
moral e espicaça envernizadamente o companheiro espírita dizendo:
“Irmão, você precisa de
Evangelho”. Ou
“Irmão, você precisa
comparecer urgente na desobsessão, pois você está obsidiado”.
Engraçado. Ter idéias próprias
agora virou sinal de estar obsidiado. Ter idéias firmes e certas é sinônimo de
precisar de evangelização. E chamar o outro de obsidiado é sinal de que? De
caridade não é e muito menos de caridade moral. E se não é de caridade moral é
mais sinal ainda de que quem chamou o outro de obsidiado é quem precisa de
evangelho urgente, pois o louco nunca se acha
louco, para ele é sempre o outro que é louco.
Aliás, eu diria mais. Um
espírita que diz que o outro precisa de Evangelho e de ser desobsidiado precisa
de Doutrina, de estudar mais a doutrina. E quem se oculta ou pensa se ocultar
atrás de um Nick anônimo para dizer que o outro espírita que coloca o seu nome
precisa se livrar dos obsessores, é porque não tem coragem de dizer de cara e
nome limpos o que disse anonimamente.
Caridade é, como o nome
diz, querer bem a alguém , ser caro a alguém, por diversas formas. E o agente da
caridade pode ser uma pessoa ou uma instituição. E como já diria Paulo de
Tarso: “A
caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade não é invejosa; não è
temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho; - não é desdenhosa; não
cuida de seus interesses; não se agasta, nem se azeda com coisa alguma; não
suspeita mal; não se rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a verdade;
tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre. ”
E a caridade, seja material
ou moral, não espera nada em troca. E é aí que entramos no nosso próximo ponto.
Não posso dizer que em todos os centros espíritas sejam assim, mas creio que em
boa parte assim o é.
Imaginem um centro que no
dia de palestras tenha uma mesa destinada a receber mantimentos não perecíveis para
serem distribuídos em bolsas, em reunião própria mensal aos que eles chamam de assistidos e uma vez por ano, no Natal
também. Obviamente, esses assistidos
são pessoas de baixa renda que estão cadastradas no Setor de Assistência Social do Centro.
Agora uma pausa para vermos
no dicionário o que significa Assistência
Social.
Assistência
social: conjunto das medidas através das quais o Estado (ou entidades não
governamentais) procura atender às pessoas que não dispõem de meios para fazer
frente a certas necessidades, como alimentação,
creches, serviços de saúde, atendimento à maternidade, à infância, a menores,
velhos etc.; serviço social.
Ate aí está batendo, mas prossigamos. Os assistidos, como eles chamam, se tem filhos – reparem – só recebem
a bolsa com mantimentos, se eles tiverem freqüência nas reuniões destinadas aos
assistidos e se os filhos tiverem freqüência na evangelização que o centro
oferece. Ora isso não é caridade, é barganha! A bolsa de mantimento é aceita de
bom grado pelos que dela precisam, mas estes a recebem com gratidão ou
humilhados por terem sido obrigados a freqüentar reunião só para não passarem
fome?
A caridade material no caso teve
seu mérito em relação aos que receberam o alimento, pois não terão fome
durante 1 mês aproximadamente, mas e quanto aos que deram e se ufanaram por
isso? Praticaram mesmo Assistência Social? Ou terão praticado Assistencialismo Social? E qual a diferença?
Assistencialismo:
1) soc. doutrina, sistema ou prática (individual, grupal, estatal, social) que
preconiza e/ou organiza e presta assistência a membros carentes ou necessitados
de uma comunidade, nacional ou mesmo internacional, em detrimento de uma
política que os tire da condição de carentes e necessitados 2) pol pej. sistema
ou prática que se baseia no aliciamento político das classes menos
privilegiadas através de uma encenação de assistência social a elas; populismo
assistencial
Não
é preciso fazer uma revisão de literatura muito profunda para ver que existe
uma diferença marcante entre a assistência social e o assistencialismo, como se
pode observar nos verbetes do dicionário Houaiss. A primeira palavra tem o
sentido de uma espécie de socorro, auxílio. A segunda palavra é seu pejorativo,
ela focaliza o momento em que o socorro tem uma intenção pérfida, que é a de
manter o socorrido necessitado com finalidades político-econômicas.
Sendo mais claro.
Assistencia Social é ensinar o assistido a pescar para que ele próprio se
mantenha e Assistencialismo é dar o peixe ao assistido mantendo-o, por alguma
razão, sob sua dependência (mesmo que essa razão seja só para mostrar que se é
caridoso, se é bom)
No caso dos espíritas, a
coisa ganha um matiz mais interessante ainda, pois a caridade – material, pois
vimos que a caridade moral praticamente inexiste – pode vir contaminada por
interesses do tipo “o que ganharei no futuro?” ou seja, “é dando que se recebe”
ou sendo mais claro ainda, não se faz a caridade pela caridade, pelo é bom ser
bom, mas tão somente por que muitos acham que estarão carimbando uma passagem
de ida para”Nosso Lar” e diminuindo ou mesmo se eximindo do Umbral. Coitados!
Ainda crêem em Nosso Lar e umbral, do mesmo jeito que seus avós e bisavós
acreditavam em paraíso e inferno.
Mas, enquanto alguns
espíritas interessados na vida futura, crentes de que fazem muito com sua
caridade material, houve um alguém, que nesse campo – a caridade ´- fez mais
caridade do que Chico Xavier. E para deixar os espíritas com mais vergonha esse
alguém caridoso foi um ateu. Não acreditava em Maria e nem em Jesus. Muito menos
que Jesus fosse Governador da Terra, mas acreditava na solidariedade entre os
seres. E foi o criador da Cidadania Contra a Fome que, ainda hoje, após sua
morte, mantém as suas características
principais. Mas a conjuntura, certamente, é outra. “Houve mudanças palpáveis.
Há 13 anos, a política mais marcante de combate à fome era a de distribuição de
leite. Hoje, o Bolsa Família alcança 7 milhões de pessoas e é muito mais digno
do que a mera distribuição de leite”, diz, admitindo que alguns reparos ainda
são necessários no programa.
A outra frente de luta aberta por Betinho surgiu com a
expansão do HIV/aids. Os irmãos – o cartunista Henfil e o músico Chico Mário –,
hemofílicos como ele, foram contaminados primeiro. Quando descobriu, em
1986, que também era soropositivo, conseqüência de uma das tantas
transfusões de sangue a que se submetera, Betinho não poderia ter feito outra
coisa: assumiu publicamente a doença e começou mais uma batalha. “Betinho nunca
encarou a doença como questão central na sua vida. Tanto a aids quanto a
hemofilia. Isso tem a ver com a sua forma de encarar a vida”, diz Maria. A
companheira do sociólogo conta ainda que todas as decisões relacionadas à
doença dependiam dele exclusivamente. “Ele foi firme até o fim. Mas quando a
saúde já estava muito debilitada, tomou a decisão que cabia naquele
instante. Por sorte, teve consciência de todos esses momentos”.
O controle mais rigoroso dos
bancos de sangue e o fim da sua comercialização tiveram influência direta de
Betinho. O coordenador-geral da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids
(Abia), Veriano Terto, explica que a entidade nasceu dentro do Ibase, a partir
de um núcleo multidisciplinar que discutia a emergência da doença no país. “A
Abia nasce em 1986, com o objetivo de mobilizar a sociedade para criar uma rede
de solidariedade para responder à epidemia de aids no Brasil”, explica Veriano.
Na ocasião, o tema estava
envolvido por um discurso de medo. “A aids não tem cura e mata”. Diziam as
campanhas publicitárias do governo. Betinho reagiu e cobrou junto à Abia a
responsabilidade do Estado no combate à epidemia. “Esse ato de coragem, de
ousadia, foi fundamental para criar, mais tarde, o programa de apoio às pessoas
com aids. A Abia se mantém fiel a seus princípios. Continuamos acreditando nos
valores da democracia para a promoção de saúde pública, da solidariedade e dos
direitos humanos”, avalia o coordenador.
E Betinho não cobrava nada pelos alimentos que distribuía,
nem em dinheiro nem em ações dos beneficiados, mas além das campanhas para recolher doações, o objetivo da Ação da
Cidadania é denunciar a parcela da população que vive na miséria e a
necessidade de políticas públicas, das quais cobrava sim, uma ação urgente.
Betinho dava o peixe sim, mas também lutava pelos excluídos para que eles
pudessem pescar por si próprios, não fazia como os espíritas que davam o peixe, cobram pelo anzol e depois se vão
achando que fizeram muito.
Já que falamos “em passand” em obsessão,
no próximo artigo falaremos sobre obsessão.
Como sempre, excelente texto. E Betinho, esse sim, uma pessoa formidável, que vive na memória das pessoas sensatas. Admiro o exemplo desse saudoso ser humano.
ResponderExcluirCaridade? Muito bem lembrado!
ResponderExcluir“Nem todos os que me dizem: Senhor! Senhor! Entrarão no reino dos céus, mas somente aqueles que fazem a vontade de meu Pai que está nos céus.” ESE cap XVIII item 16
Que vontade seria essa? Jesus veio nos falar dela, nos tirar o véu da ignorância, o manto da forma e aparência, para nos mostrar o verdadeiro conteúdo da vontade do Pai: amar ao próximo como a nós mesmos. Só isso. O resto é blá blá blá e não importa a Deus. Importa que façamos com amor ao próximo, e não por amor a nós mesmos. Importa que trabalhemos para o bem do próximo, não para nosso próprio bem. E este amor se traduz de inúmeras formas, seja numa palavra gentil, na empatia, num pequeno gesto desinteressado.
Estamos aprendendo, aqui estamos porque somos imperfeitos, mas lembremos também que até mesmo Jesus se impacientava conosco: “Ó raça incrédula e depravada, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?” (ESE cap XIX item 1). Então, que tal a gente fazer valer a pena o sacrifício Dele?
Convenhamos que espíritas e não espíritas nunca praticaram a verdadeira caridade. Na verdade, todos se embutem no paradigma para fazer defesa, quando em algum momento forem endagados se algum dia já prestarão; empresas hoje em dia exigem esse tipo de "característica". Caridade esta sendo compreendido não como ação, mas como currículo. Um erro enorme.
ResponderExcluirAté parece que, "fazer caridade", tem que fazer parte do curriculo, e não do senso moral contínuo. Caridade virou sinônimo de status. Olhar os mais pobres como "necessitados", é ignorar que os eleitores (espíritas e não espíritas) que são também, são cúmplices de votar em maus políticos. Não é discutindo e fazendo encenação usando jaleco que as coisas irão mundar.
Cabe salientar, que estes comem carne e fazem fezes no vaso sanitário. O mundo é um lugar, onde em todo o lugar, deveria-se prestar a filantropia. Porém, hoje caridade esta associado muito a sustentabilidade e isso é marketing e merchandising angariado por centros e demais lugares que prestão tal "assistência".
Realmente é de se observar que centros espíritas são uma espécia de lugar eletizado. Gostam de receber doações com horário marcado, tipos específicos, limpos, embalados e entregues na porta. Convenhamos que para quem esta sob prova de caridade é entregar-se ao trabalho daqueles que chamam de "irmãos" e não esperar tudo da bondade de Deus.
O certo seria não existir centros nem igrejas, para analisar de que moral faz a população quando não há motivos a acreditar no além, mas naqueles que eles tanto chamam de irmãos.
Acredite nele, VIDA, os mortos já se foram.
Vamos refletir: quem dispõe de tempo para ficar num lugar o dia todo, disponível para receber doações daqueles que jogam seus lixos e suas sobras para o que pensam ser caridade, e ainda fazer a triagem, consertar e até mesmo lavar as roupas, organizá-las, separar os alimentos em porções, montar kits de doações... amigo, nem queira saber o que as pessoas largam nas casas dizendo ser doação: cuecas sujas, feijão cheio de bichinhos, roupas rasgadas, e por aí vai! Imagina entregar isso para uma pessoa veio pedir ajuda...
ResponderExcluirMas é fato, quem está efetivamente disposto a fazer caridade, faz com amor, e isto se reflete tanto na sua disposição em ajudar quando na de dar algo que fará o recebedor se sentir feliz e valorizado.
Horário? Sim... no espiritismo ninguém ganha prá fazer o que faz, é o que sei. Não há nenhum tipo de remuneração, então temos que realmente DOAR nosso tempo livre, pois também estamos na batalha pela sobrevivência.
Caridade como curriculo? De novo Jesus para a humanidade: “Ó raça incrédula e depravada, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?”