Se consultarmos o dicionário ele nos
indicará tratar-se de pessoa vinculada ao Espiritismo. Se perguntarmos a quem
não é espírita, uns ironizam (dizendo por exemplo que os espíritas
"mexem" com os mortos), outros temem, outros permanecem indiferentes.
Se indagarmos aos próprios espíritas, uns dirão que é ir ao Centro, tomar
passe, ouvir ou fazer palestras, ler livros. Outros dirão que é fazer caridade.
As respostas serão várias, mas todas incompletas.
Ser Espírita vai muito além de
freqüentar núcleos Espíritas, tomar passes, ler romances, crer em reencarnação,
etc.
Somente
pode-se dizer Espírita aquele que:
1. estudou e analisou a fundo a doutrina, até chegar à
certeza plena de sua autenticidade.
2. descobriu as leis que o regem. (antes de se conhecerem
as leis, o fenômeno está no domínio do maravilhoso e do sobrenatural;
descobertas as leis, passa a ser um fato natural).
3. utiliza os conhecimentos para proceder ao seu
aperfeiçoamento moral, visando sua evolução. Como disse Kardec: “Reconhece-se
o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega
para domar suas inclinações más”.
O primeiro passo - e sem ele
ninguém pode ser Espírita - é estudar (não apenas ler), a obra
base da doutrina, composta por 7 livros:
1857 - O Livro dos Espíritos
1859 - O Que é o Espiritismo
1861 - O Livro dos Médiuns
1864 - O Evangelho segundo o
Espiritismo
1865 - O Céu e o Inferno
1868 - A Gênese
1890 - Obras Póstumas
E também é recomendável que leiam
os 12 volumes de A Revista Espírita, jornal de estudos psicológicos, criado por
Kardec e publicado pela Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, de 1858 a
1868.
O melhor então é buscarmos a resposta nos
livros da própria Codificação, a partir de O Livro dos Espíritos.
Em O
Livro dos Espíritos, na conclusão (item VII), o Codificador apresenta
uma classificação dos adeptos:
- Os que acreditam;
- Os que acreditam e admiram a moral espírita; e
- Os que crêem, admiram e praticam. Segundo
Kardec, esses últimos são os verdadeiros espíritas, ou os espíritas
cristãos.
Kardec
tinha distinguido, posteriormente em O Livro dos Mediuns, quatro classes de
espíritas:
1ª Aqueles que se limitam às
manifestações; nós os chamaremos de Espíritas experimentadores.
2ª Aqueles que não vêem outra coisa
senão os fatos; não compreendem a parte filosófica; admitem a moral que deles
depreendem, mas não a praticam; Estes são os Espíritas imperfeitos.
3ª Aqueles que não se contentam em
admirar a moral espírita, mas que a praticam e aceitam suas conseqüências.
Estes são os verdadeiros Espíritas.
4ª Há enfim os Espíritas exaltados.
O exagero em tudo é prejudicial; no Espiritismo, produz uma confiança cega e
freqüentemente pueril nas coisas do mundo espiritual e faz aceitar muito
facilmente e sem controle aquilo que, pela reflexão e pelo exame, teria
demonstrado a sua absurdidade ou impossibilidade. Esta sorte de adeptos é mais
prejudicial que útil à causa do Espiritismo.
No livro O Céu e o Inferno, que apresenta
coletânea de inúmeras comunicações de espíritos nas mais diversas condições, há
uma manifestação interessante de espírito que se encontra classificado como
Espírito feliz, fruto de uma conduta digna quando na Terra. Trata-se do
espírito identificado pelo nome de Jean Reynaud. Indagado se na vida física ele
professava o Espiritismo, respondeu: "Há uma grande diferença entre
professar e praticar. Muita gente professa uma Doutrina, mas não pratica. Pois
bem, eu praticava e não professava."
Professar significa reconhecer
publicamente, declarar-se adepto, dizer de si mesmo, fazer propaganda da idéia.
Pois bem, aí está a chave da questão. A situação de felicidade do Espírito
devia-se à vivência dos princípios do Espiritismo, mesmo sem conhecê-lo.
Breve consulta ao capítulo XVII de O Evangelho Segundo o Espiritismo no item O
Homem de Bem e Os bons espíritas, faz compreender que as características
coincidem com os preceitos morais que justificam a denominação de espíritas
cristãos, conforme definição do próprio Codificador, pois aí surge a figura
do espírita praticante.
A questão pode ser fechada com trecho
do Espírito Simeão, constante do capítulo X - do mesmo livro citado no
parágrafo anterior -, item 14. No último parágrafo, diz o Espírito: "(...) Se
vós vos dizeis espíritas, sede-o pois; olvidai o mal que se vos pôde fazer e
não penseis senão uma coisa: o bem que podeis realizar. (...)".
Ora, o trecho transcrito bem indica o
programa de vivência espírita. Para colocá-lo em prática, há que se esforçar
para vencer as más tendências e ainda ocupar-se de fazer o bem. Eis o que é
verdadeiramente ser espírita: a adoção dos preceitos morais como diretrizes da
própria conduta ou o esforço para a eles se adaptar. O ser espírita é
mais uma questão de foro íntimo, que de aparências externas.
Resumindo: “O verdadeiro
espírita não é
o que crê nas comunicações, mas o
que procura aproveitar os ensinamentos dos Espíritos. De nada adianta crer, se sua crença não o faz dar sequer um passo na senda do progresso, e não o torna melhor para o próximo”. (ALLAN KARDEC).
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