quarta-feira, 4 de julho de 2012

Moral, Moralidade e Moralismo




Temos visto alguns (muitos) espíritas confundirem a moral com moralismo e até, em outro lado, como algo secundário, pois vêem a doutrina tão somente em seu aspecto cientifico e filosófico e por – alguns – entenderem a moral “apenas” como conseqüência decorrente da filosofia espírita que nasce das observações cientificas levadas a efeito por Kardec não merece maior destaque deles e até ignoram o aspecto moral da doutrina considerando-o menor perante os aspectos científico e filosófico, como se fossem separados e separáveis os três aspectos da doutrina.  Só que o que não percebem é que esse ‘ “apenas” como conseqüência’ é o objetivo do próprio Espiritismo, pois está implícito na fala de Allan Kardec quando ele diz que a doutrina espírita tem como objetivo a reforma moral da humanidade.

Mas, os que rechaçam o aspecto moral o fazem também por pressões dos que supervalorizam tanto a moral que transformam a moral cristã, a moral espírita em moralismo e não vêem a moral como conseqüência de um esclarecimento que a própria pessoa logrou alcançar e se propôs a conscientemente seguir, mas vêem e tentam impo-la, como uma obrigação que, no fundo, ela mesma ainda não atingiu, ou seja, é o moralismo.

Mas, o que vem a ser exatamente a “moral”? Segundo os espíritos responderam a Kardec na questão 629 de O Livro dos Espíritos, moral é a regra de bem proceder, ou seja, de distinguir o bem do mal. Aí entra outra questão: como saber, como distinguir o bem do mal, se a moral se atinge assim? Esta dúvida é respondida na questão 630 a qual afirma que O bem é tudo que é conforme à lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus  e fazer o mal é infringi-la.

Quando no Livro dos Espíritos se diz que o progresso intelectual engendra o progresso moral, tornando compreensíveis o bem e o mal, quer APENAS dizer que, sem o desenvolvimento da capacidade de pensar, que só se atinge, como se deduz , atingindo a escala hominal, o homem não teria como conhecer o que é bem e o que é mal ou seja, isso leva a inferir que o desenvolvimento moral se atinge quando e quanto mais esclarecido for o homem e isto não tem nada a ver com inteligência, como muitos poderão (e querem) pensar, mas com intelecto que é bem diferente de inteligência e a moral bem compreendida e praticada impede que o moralismo.

      A Moral é uma das opções do livre arbítrio, em relação ao sistema de regras existentes. É aquilo que passamos a exigir de nós mesmos, a que nos submetemos sem qualquer ameaça exterior, e que ninguém pode impor, a não ser para si mesmo.


(...) Olhar o mundo e as pessoas com respeito, sem esperar nada em troca, é uma ação da moral, que só pode ser julgada pela consciência.

Quando não te permites tudo, sem esperar nada em troca, é porque a moral encontrou abrigo na mente daquele que optou em ser livre, solidário, e humanista. A este respeito as regras, chamamos de moralidade.

No Moralismo a ação moral procura impor uma vontade, quer por uma ameaça ou temor religioso. O certo ou errado, não é mais uma opção pessoal, e sim um comando do terceiro, que prega uma moral, que muitas vezes não é sequer a dele.

O Moralismo se utiliza da moral, para pregar a intolerância, o preconceito e o puritanismo, que não garantem o bem-viver, na medida em que segrega, cria fronteiras e abismos, entre as pessoas, que sequer se conhecem, e não possuem um referencial moral comum.

Se a moral é um sistema de regras, e a moralidade é o respeito a essas regras, o moralismo é a apropriação indevida da moral, para servir às falácias, amplamente utilizada, pelas pessoas, políticos e gestores descomprometidos com o bem comum.

     Dando um exemplo agora da etimologia da palavra "moral" e de costumes e hábitos corriqueiros, mas as vezes não comuns a todas as pessoas. 

Moral vem do "latim" 'mos-moris' e quer dizer "costumes, hábitos", por isso não podemos falar em uma moral apenas, a individual, visto que se no Brasil, por exemplo, a moral brasileira (os costumes) dizem que um homem deve se casar com uma mulher, no Oriente Medio, de acordo com a moral islamica, um homem pode se casar com varias mulheres, basta poder sustenta-las.  Diremos que é imoral, só por nao ser a moral deles igual a dos brasileiros? Em absoluto podemos fazer isso, são somente costumes , habitos diferentes.

     Outro exemplo, até imperceptível do que seja hábito moral, ou seja, nascido dos hábitos e costumes, mas é moral, é o hábito de se vestir. Isso mesmo, de se vestir. Quem já teve oportunidade de estudar FILOSOFIA DO DIREITO, deve ter ouvido o professor dizer que nos primórdios  da humanidade, toda a raça humana andava nua para eles, era natural , mas aí houve o frio, a era glacial e o homem teve necessidade de se proteger do frio, cobrindo  seu corpo e usou para isso as peles dos animais.  Dizem que o uso do cachimbo faz a boca torta e o cachimbo foi o uso da roupa (peles) por centenas de anos e a boca ficou torta, ou seja, se habituaram, se acostumaram a usar as roupas, por isso nao usar roupas é visto como algo socialmente imoral hoje.

     Um último exemplo é o escovar os dentes e lavar as mãos, dentre outros. Esses são hábitos morais. Morais? Isso mesmo, pois são hábitos que nascem do costume reiterado.

Mas, a moral também não é só bem proceder nos costumes corriqueiros, pois estes costumes tendem a ser diferentes de povo pra povo, mas a moral tem outra conotacão mais usual e geral, que chamarei de moral no proceder com os outros ou numa linguagem mais cristã: na moral do "fazei ao próximo o que gostaria que lhe fizessem".


Se os religiosos acham a moral bonita, os cientificistas não acham, acham que a moral é algo individual e que não deve se cobrar postura moral de ninguém. Aqui cabe um comentário: um erro não justifica o outro. Não é por alguém ser moralista e por isso ficar dizendo o que os outros deveriam fazer (ou seja cobrarem postura moral), que podemos dizer que a moral é algo sem importância ou mesmo algo meramente "individual". Isso para mim,é desculpa de quem não quer nem mesmo tentar se transformar moralmente e nem fazer esforços para melhorar-se. Também dizer que "moral" é algo individual é limitar (ou então é prova de que não conhece mesmo o espiritismo) que "Moral" é vista como regra de bem proceder e tem caráter geral, ou seja, de lei, tanto que ocupa toda a terceira parte do Livro dos Espiritos - DAS LEIS MORAIS. E vem dizer que a moral é algo "individual"? É um erro de duas pontas: da ponta que minimiza a moral a quase zero e também um erro dos moralistas, que muitas vezes são os primeiros a cobrar dos outros uma moral que eles próprios não praticam.

Ter moralidade, seguir a moral espírita não é, mas ser moralista sim, é algo individual e portanto algo pelo qual cada um responderá. 

Por falar em moral espírita que é a mesma moral do Cristo, segundo Kardec, é importante desfazer outra confusão muito comum, senão de termos, pelo menos de idéias, que é a feita entre moral do Cristo (falada por Kardec) e moral cristã que Podem parecer a mesma coisa, mas moral cristã e moral do Cristo são coisas diferentes, pois a moral cristã é a moral conciliar dos teólogos cristãos, que foi elaborada em séculos de cristianismo e tem a ver com a questão da idéia de pureza, castidade, probidade, sendo a recomendação dessas virtudes enfim. Até porque a palavra "cristão" foi criação de Lucas e não de Jesus, e com o tempo se desnaturou.

Já a moral do Cristo, significa viver segundo o Cristo vivia, seguindo os seus ensinamentos e exemplos, pois a própria palavra moral, na sua origem latina, mos-moris, significa hábitos, usos, costumes, atos repetitivos e ordinários, sendo sinônimo de habitual, comportamental, usual. 

Moral cristã restringe a idéia; moral do Cristo, ao contrário, alarga, amplia, estende a idéia, pois o espiritismo veio relembrar a mensagem do Cristo que estava esquecida pelos homens. Entre a moral do Cristo e a moral espírita, não há diferenças, assemelham-se, são convergentes, já dizia Kardec.

Kardec fala dos espíritas cristãos, ao se referir aos espíritas verdadeiros, ou seja, àqueles que se esforçam por domar as suas más tendências e são reconhecidos pela transformação moral, para sugerir o grau de sinceridade com que o espírita vive a moral espírita, que nada mais é do que a moral do Cristo, o qual segundo a questão 625 é o guia e modelo oferecido aos homens e a moral do Cristo é a escolhida, porque segundo Kardec, não há outra melhor.


 Fonte: a parte em roxo foi retirada do texto escrito por Adauto Viccari, do blog do Adauto.

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