terça-feira, 17 de abril de 2012

Fraudes Em Uberaba: Chico Xavier Não Sabia Diferenciar Um Encarnado De Um Desencarnado?


O artigo que lerão a seguir não é nenhuma novidade, mas estou republicando-o (foi postado originalmente pelo site www.sedentario.org ) pois ainda há quem creia que estas materializações ocorreram e pior, fazem questão de quererem continuar crendo. Vocês podem estar se perguntando: Por que um espírita (eu) estaria  dizendo que essas materializações sao fraudes? E eu respondo: "Simples. Justamente por ser espirita e nao aceitar nada que a razão não me mostre ser possivel e nesse caso, em particular, em que a razão, os olhos e o bom senso me mostrem ser uma fraude."



“Eu vi ao nosso lado o espírito de Emmanuel, que naturalmente você conhece. Então, ele se referiu que a nossa reunião lembrava aquele grande dia de Jerusalém quando os discípulos, de portas fechadas (conforme a palavra indiscutível do Evangelho) receberam a visita de N.S. Jesus Cristo, plenamente materializado depois da crucificação. Então, disse o nosso Emanuel, que guardadas as proporções, muito longe de querermos comparar a reunião nossa com a reunião apostólica, disse que ele o fenômeno da recorporificação do Cristo lembrava o da Irmã Josefa e do nosso amigo dr. Alberto Veloso que foram os espíritos que se materializaram no consultório”. — Chico Xavier 

O que você vê na fotografia acima? Eu vejo um homem com panos, como gaze, saindo de sua boca, amparado por outra pessoa totalmente coberta de véus, incluindo um capuz incluindo uma viseira — similar a uma burca. E ao lado das duas figuras, que a fotografia em nada sugere serem algo sobrenatural, está ninguém menos que Chico Xavier.

O próprio Xavier expressou uma opinião diferente dos fenômenos que presenciou, e é o que citamos através de Jorge Rizzini no trecho acima. Para Chico Xavier, ou melhor, a seu guia Emanuel, a seu lado estaria o espírito materializado da “Irmã Josefa”, em um feito, “guardadas as proporções”, lembrando a própria ressurreição de Jesus.

Emanuel, ou melhor, Chico Xavier, estava enganado.

Comecemos pelo final, e pelo fato que todos, independente de sua crença ou descrença, reconhecem. Em 1970, uma senhora chamada Otília Diogo foi pega no ato.

Conhecida por supostamente “materializar” espíritos diversos, notoriamente o da “irmã Josefa” bem como do “doutor Alberto Veloso” em sessões realizadas às escuras e que muito impressionavam aos crentes, ocorre que Diogo queria tirar as rugas de seu rosto. E para tal, confiou que um médico espírita faria o trabalho muito terreno em troca de algumas de suas fantásticas materializações.

Com o que Diogo não contava é que o médico não era tão ingênuo, e pouco convencido com o que viu, ficou desconfiado com a maleta que a médium levava. Resolveu abri-la. Lá dentro encontrou todos os apetrechos usados para as “materializações”, dos véus, passando pelos terços e até mesmo a barba postiça do “doutor Veloso”.



Exposta e confrontada, Diogo vociferou palavrões, mas ameaçada de ser levada à polícia, finalmente confessou a fraude. Era realmente tudo um embuste.

No entanto, a confissão veio com um detalhe: Otília só teria começado a fraudar em 1965. Antes disso, alega que realmente teria poderes autênticos, realmente materializaria espíritos.

Por que esse detalhe é importante? Porque é o detalhe que envolve as materializações de Uberaba e alguma das principais figuras do espiritismo brasileiro.

Em 1964 Otília Diogo protagonizou seu show na presença de muitos. E entre estes muitos estavam Chico Xavier e Waldo Vieira de um lado, e os repórteres da revista Cruzeiro de outro. A extinta revista dos Diários Associados tinha então uma influência que mesmo hoje nenhuma publicação pôde igualar, conseguida através de uma tiragem impressionante. E para vender tanto, podemos dizer que o Cruzeiro não mantinha um rigor jornalístico muito elevado. 

Com as materializações de Uberaba tendo Diogo como centro e Xavier e Vieira como ilustres coadjuvantes, pode-se dizer que lucraram todos: com a polêmica, o espiritismo ganhou projeção — como o próprio Vieira comentou posteriormente — e o Cruzeiro ganhou o que sempre lhe interessou, vendagem primeiro promovendo o mistério, e então o expondo. A polêmica se estendeu enquanto espíritas, representados principalmente por Jorge Rizzini, defenderiam as materializações de Diogo.
"Foto do espírito materializado Irmã Josepha, rara foto de rosto descoberto (Campinas - SP)"

Até hoje espíritas alegam que as fotografias das sessões de Uberaba, ao contrário do alegado pelos repórteres do Cruzeiro, não só não denunciariam truques, como comprovariam feitos sobrenaturais. Nisto, penso que a crença se sobrepõe à pura e simples observação. Apesar da publicação não ser notória por seu rigor e mesmo ética jornalísticos, as fotografias, analisadas mesmo por um verdadeiro perito, sim evidenciam que o espírito masculino do “doutor Veloso” apresenta os mesmos traços faciais de Otília, e mesmo o volume de um busto. 


Imagens onde o “espírito” aparece rente às grades, com várias partes dos véus jogadas para o lado de fora da “jaula”, são promovidos como registros do espírito atravessando as grades. Mas é evidente que a pessoa muito sólida, que chega mesmo a segurar uma Bíblia entregue por Xavier e Vieira, não atravessa nenhum vergalhão. Simplesmente estende seus braços para a frente. Apenas a fé, e a fé cega, enxerga algo sobrenatural nestas imagens.

Confrontados com essas observações, apologistas das materializações de Uberaba alegam que as fotografias poderiam ter sido forjadas, ou mesmo que seriam ambíguas. Isto é, se não comprovariam nenhum feito sobrenatural, tampouco comprovariam a fraude.



Em um novo livro publicado postumamente, um dos fotógrafos e principais envolvidos com as peripécias de Otília Diogo divulga imagens inéditas. Nedyr Mendes da Rocha defende os fenômenos, mas as imagens que divulga, em minha opinião, só reforçam o que já deveria ser óbvio: nunca houve evidência de algo sobrenatural nessas sessões.

A imagem acima é descrita como “Nestor [pai de Nedyr] e o espírito materializado Dr. Alberto Veloso (Campinas – SP)”. Há alguma dúvida de que o que se vê claramente nas imagens é ao invés uma mulher, a própria Otília Diogo, com o volume de seu busto, usando barba postiça e uma touca que mal esconde o volume bem como a cor de seus cabelos?

Antes de Uberaba Otília já fraudava. Depois de Uberaba, Otília fraudava. As fotografias das sessões de Uberaba mostram a “Irmã Josefa” como idêntica a Diogo, bem como o “dr. Alberto Veloso”, sempre com o volume de seus seios. Que lógica levaria alguém a não concluir que as sessões de Uberaba presenciadas e garantidas por Chico Xavier e Emanuel também foram uma farsa?

Décadas depois, o próprio Waldo Vieira diria que as sessoes realmente foram truques. Defensores das sessões de Uberaba alegam que Vieira estaria, hoje, mentindo, e que a palavra de Chico autenticando o caso deveria se sobrepor a todas as outras declarações, incluindo às fotos. Atacam Vieira, atacam o Cruzeiro. Lembram como as roupas de Otília Diogo teriam sido rasgadas, em uma história contada por Jorge Rizzini.


A história dramática dos repórteres tentando desmascarar a médium violentamente soa bem como um romance, mas contrasta com a “confraternização no encerramento da sessão com os repórteres e fotógrafos” registrada por Mendes da Rocha, e em verdade, mesmo entre aqueles que defendem as sessões de Uberaba não há confirmação ao evento. Pelo visto não foi apenas o Cruzeiro que se aventurou a dramatizar eventos.

Não há evidência razoável de que Otília Diogo realmente materializasse algo, a despeito de todo o endosso que recebeu e toda a legião de defensores que possui até os dias de hoje. A evidência aponta justamente, e muito claramente, a trucagens precárias e uma dissonância cognitiva através da qual toda evidência de fraude foi automaticamente interpretada como evidência de algo sobrenatural.

Chico Xavier, que atribuiu a presença de Emanuel e associou o caso à própria ressurreição de Jesus, estava enganado. Muitos, ao defender o caso, continuam enganados. Tudo o que vemos nas fotos é tudo o que vemos nas fotos: uma mulher coberta de panos e por vezes uma barba postiça.

Conclusão:

Ficou constatada a fraude. Dirão que por parte de Otilia, mas livrarão, como livraram, a cara do Chico de toda e qualquer responsabilidade na fraude que ele presenciou (ou a foto tambem é mentira?) durante anos. De qualquer jeito pergunto: qual a confiabililidade que merece(u) um medium que declara ter participado de uma materialização quando ele foi INCAPAZ de diferenciar um encarnado de um desencarnado e ser deste modo enganado? Isso quem acreditar que ele não tem mesmo culpa na fraude.




4 comentários:

  1. Duas opções:
    1 - Oi ele foi enganado como um ignorante qualquer, demonstrando que não tinha nenhum apoio de "espiritualidade" nenhuma.
    2 - Ele era cúmplice da falsa médium (redundância). Tanto que, depois que esse episódio foi desmascarado Chico se afastou de qualquer impressa, já que ele é facilmente seria desmascarado por qualquer descrente.

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  2. Como disses: "Nisto, penso que a crença se sobrepõe à pura e simples observação." Sou ateu, nada contra quem cre em deus, mas para uma religiao existir a crença deve se sobrepor a observaçao, se nao tu explica o motivo por razao e deixas de acreditar em deus. Acredito que a crença em algo maior seja benefico para a autoestima das pessoas, mas ao contrario da maioria nao consigo faze-lo. Bom que a ficha das pessoas vai caindo aos poucos, assim a mudança de modo de pensar e gradual e indolor. (meu teclado nao tem acentos)

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  3. Vou me permitir dar uns pitacos, embora já tenha dado muitos noutro blog: obraspsicografadas.org, no qual inclusive poderão ver as matérias do Cruzeiro sobre o caso (falta só uma).

    Então Chico não saberia distinguir um fantasma materializado de uma médium disfarçada? Acho que saberia sim, inclusive porque a médium disfarçada não poderia atravessar as barras de jaula como a fantasma fez...

    A história do caso é a seguinte:
    A revista Fatos e Fotos em setembro de 1963 lançou uma matéria sobre essa médium e ao ver a reportagem, Waldo achou que valia a pena pesquisar a fulana. Juntou uma equipe com 18 colegas médicos e de setembro a dezembro de 1963, fizeram seis sessões com a médium, testando várias condições de controle. NÃO ACHARAM FRAUDE, mas como Nedyr mesmo diz em seu livro, era evidente que Otília Diogo não era um médium séria, pois se apresentava até em festinhas de aniversário.

    Uma amiga do Chico e do Waldo, teleatriz da TV Itacolomi, Wanda Marlene, fez uma reportagem sobre a pesquisa e aí o colega do Cruzeiro, José Franco, resolveu entrar de sola no caso e fez uma reportagem toda neutra sobre o assunto materialização, deixando no final a armadilha: ele não emitia comentários sobre o caso, deixando para fazê-los apenas se lhe fosse permitido o acesso à pelo menos uma sessão, com companhia de outro colega, José Nicolau. Essa reportagem saiu em 27 de dezembro de 1963 (embora na capa saísse com data de três semanas depois).

    Waldo juntou a equipe e disse que ia dar acesso ao repórter. Alguns discordaram, pois achavam que ainda não tinham o suficiente para se certificar da idoneidade dos fenômenos e com provas irrefutáveis do mesmo, mas Waldo ganhou no grito. Foi feito o convite e no dia marcado para a sessão (3 de janeiro de 1964), ao invés dos dois anunciados, vieram sete. Dois ficaram fiscalizando do lado de fora e os outros acompanharam a sessão do lado de dentro do consultório do Waldo (ele era dentista).

    Durante toda a sessão, os repórteres nada acharam de fraudulento e até deixaram declarações gravadas e escritas quanto a isso. Porém, o Cruzeiro, uma revista plebeia, fundamentada em sensacionalismo barato, e de posição marcadamente anti-espírita, lançou uma série de reportagens avacalhadoras.

    Com o poderio dos Diários Associados, ninguém jamais imaginaria que alguém ousasse confrontá-los. Mas Jorge Rizzini e Luciano dos Anjos pegaram a luva e defenderam os fenômenos. Três ou quatro dos médicos da equipe também o fizeram... Mas Waldo não estava entre eles. Motivo: excesso de covardia. Ele simplesmente fugiu apavorado pro mato e se escondeu lá.

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  4. Nem sempre de forma muito honesta, Rizzini conseguiu estragar todo o belo trabalho dos repórteres. Numa das "reportagens não escritas", o repórter Mário de Moraes diz uma baita asneira que não sei porque Rizzini não pegou no pé dele. Diz Mário de Moraes que ele não afirmava que todos os médicos envolvidos lá eram farsantes. Alguns não eram. Eram sim crentes sinceros e honestos e por isso mesmo eram FANÁTICOS PERIGOSÍSSIMOS. Ele faz essa afirmativa para justificar porque não deram o flagrante de fraude. Eram apenas cinco repórteres contra mais de 20 "pesquisadores". Mas me expliquem essa: o cara conheceu os médicos NAQUELE DIA da sessão. Nunca os vira antes. E também não apresentou nenhum histórico de violência cometida por aqueles "fanáticos perigosíssimos" anteriormente. Cabe aqui um "Deus me livre! Que mentira cabeluda"?

    Quanto à Otília, ela era uma mulher pobre, completamente anarfa, sem muitas perspectivas de futuro com os poucos dotes que tinha e por isso via na sua mediunidade um meio de ganhar bem a vida. Ficar ao lado de Chico era uma roubada, pois ele tão sensível e tão chorão ficava buzinando no ouvido dela de que não deveria fazer uso comercial de seus dons. Quando estourou todo o escândalo com a ajuda do Cruzeiro, foi tudo o que ela precisava: agora se tornara conhecida no Brasil inteiro. Deu um pé no traseiro dos pesquisadores e partiu para a sua carreira solo.
    Mas mediunidade é uma coisa incontrolável: às vezes vem, às vezes não. E com um público pagante, não tinha escolha: se não vinha, o jeito era improvisar. Até que finalmente acabou desmascarada.

    O Chico ficou todo decepcionado e acabou acatando o conselho de Emmanuel e cuidado só de literatura. Não se meteu mais a cientista. O Waldo, em 1966, largou o Chico e partiu para a sua carreira solo, fundando uma seita esotérica agora com sede em Foz do Iguaçu. Mas nunca mais conseguiu a projeção que teve durante a parceria com o Chico. Mas o negócio dele, tal como da Otília, é dinheiro.

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