sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O Espiritismo é Cristão?

Juntamente com a questão do ser ou não o espiritismo uma religião (e não, não é uma religião), essa questão de ser ou não cristão, é um dos pontos sobre o qual os espíritas não se entendem e diferentemente da questão “religião”, em que Kardec por diversas vezes fez questão de afirmar que o espiritismo não era uma religião (mais tarde ele diria que é uma religião, mas apenas no sentido filosófico, o Codificador usou a adjetivação “espiritismo cristão”, dando azo a uma certa confusão de boa parte dos espíritas, que por isso, entenderam o espiritismo como religião.

Krishnamurti de Carvalho Dias, em “O Laço e o Culto” diz que:

“Kardec explicita isso naquele capítulo I de “A Gênese”. Quando surgem as expressões “espiritismo cristão”, “evangélico”, devemos entende-las de modo justo, para não incidir em enganos, pois o espiritismo não é um descendente direto do cristianismo, do Novo Testamento, como são as seitas e igrejas evangélicas. 

Sempre bom clarear que o vocábulo “cristão/cristã” está sujeito a certas confusões, pois há que distinguir quando ele se refere o que é relativo ao Cristo, e quando a relação é com o cristianismo, coisas bem diferentes. 

Não se pode dizer impunemente palavras com sentidos e alcances diferentes:doutrina de Jesus é uma idéia definida e clara. Mas doutrina jesuítica, relativa a Inácio de Loiola e à Companhia de Jesus, já é assunto muito distante da primeira idéia. Quem se aferrasse a palavras, valorizando “jesuítico” como relativo a Jesus, cairia em um erro muito grande. 

Sabe-se por aí que certas adjetivações são muito enganosas. 

Certos fatos não devem ser adjetivados: democracia é assim; uma vez adjetivada deixa de ser democracia pois até as piores tiranias gostam de enfeitar-se com esse rótulo, só que seguido de pomposos adjetivos. "

"Espiritismo é Kardec, é a Codificação. Adjetivando, começa a desmerecer. Enseja isso uma certa confusão: espiritismo cristão, evangélico, pode levar ao pensamento de que existem outros espiritismos que não são cristãos nem evangélicos.

Até mesmo a expressão consagrada “espiritismo kardequiano” pode permitir esse engano: haveria outro não kardequiano? 

Essa rotulação, se generalizada, pode conduzir uma atitude de permissividade e isso não nos interessa; seria uma semente de divisionismo futuro. Quem não concordasse com certa adjetivação, proporia outra e assim por diante. 

Deve-se ter em mente que qualquer uma adjetivação dessas permanece, passa alem da pessoa ou situação dentro da qual foi feita e projeta-se no futuro, talvez para ser manipulada por elementos inescrupulosos ou ignorantes. 

Porque Kardec usou aqueles adjetivos – cristão, evangélico – para indicar alguém que alem de conhecer a doutrina, vive-a sinceramente, introduziu um risco de pensar que pode haver vários espiritismos, um que é assim e outro que é assado. 

Dentro do princípio de que tais etiquetagens são arriscadas, melhor não adjetivar. Fique claro que o espiritismo é um só, não há pluralidade deles, e esse que existe é, sucessivamente, cristão, evangélico, kardequiano e laico, sendo tais adjetivos cumulativamente pertencentes a uma coisa só.”

E é bem arrazoada a posição de Krishnamurti, ao contrário das alegações favoráveis ao espiritismo ser adjetivado de cristão, alegações essas que não encontram sustentação na codificação, da qual pegam frases soltas com as palavras “Jesus” e “cristão”, para afirmarem que o espiritismo é cristão, quando na verdade, a doutrina tem o caráter de universalidade.

Muitos deverão estar pensando, depois de lerem os trechos acima: “Eles querem tirar Jesus do espiritismo”. Falácia dos que só sabem usar esse bordão, pois Jesus consta da codificação: é citado no Livro dos Espíritos, na Gênese, no Evangelho Segundo o Espiritismo, só que sem o tom confessional que muitos querem dar. Aliás, o próprio Evangelho Segundo o Espiritismo traz em si o caráter de laicidade (laço), ao não abordar sabiamente, as palavras usadas como dogmas pela Igreja, mas apenas a moral do Cristo, como disse Kardec.

Por falar em moral do Cristo, é importante desfazer outra confusão muito comum, senão de termos, pelo menos de idéias, que é a feita entre moral do Cristo (falada por Kardec) e moral cristã que Podem parecer a mesma coisa, mas moral cristã e moral do Cristo são coisas diferentes, pois a moral cristã é a moral conciliar dos teólogos cristãos, que foi elaborada em séculos de cristianismo e tem a ver com a questão da idéia de pureza, castidade, probidade, sendo a recomendação dessas virtudes enfim. Até porque a palavra "cristão" foi criação de Lucas e não de Jesus, e com o tempo se desnaturou.

Já a moral do Cristo, significa viver segundo o Cristo vivia, seguindo os seus ensinamentos e exemplos, pois a própria palavra moral, na sua origem latina, mos-moris, significa hábitos, usos, costumes, atos repetitivos e ordinários, sendo sinônimo de habitual, comportamental, usual. 

Moral cristã restringe a idéia; moral do Cristo, ao contrário, alarga, amplia, estende a idéia, pois o espiritismo veio relembrar a mensagem do Cristo que estava esquecida pelos homens. Entre a moral do Cristo e a moral espírita, não há diferenças, assemelham-se, são convergentes, já dizia Kardec.

Kardec fala dos espíritas cristãos, ao se referir aos espíritas verdadeiros, ou seja, àqueles que se esforçam por domar as suas más tendências e são reconhecidos pela transformação moral, unicamente como disse Krishnamurti, para sugerir o grau de sinceridade com que o espírita vive a moral espírita, que nada mais é do que a moral do Cristo, o qual segundo a questão 625 é o guia e modelo oferecido aos homens e a moral do Cristo é a escolhida, porque segundo Kardec, não há outra melhor (subentendendo-se que se houvesse outra melhor, não seria a do Cristo, a escolhida).

Então não usemos a fé exarcebada para nos dizermos espíritas cristãos, pois dizer isso seria dizer que nos esforçamos por domar nossas más tendências. Nos esforçamos mesmo? Ou não nos contemos quando alguém pensa diferentemente de nós em assuntos espíritas e soltamos os cachorros?

Não usemos a fé exaltada para nos dizermos espíritas cristãos, pois seria dizer que somos reconhecidos pela nossa transformação moral. Alguém poderá dizer que já se transformou moralmente a ponto de não falar hoje o que falaria de impropérios a outros espíritas só por pensarem diferente?

E nunca mais digam que outros querem tirar Jesus do Espiritismo, pois ele é citado na codificação, por Kardec e pelos espíritos superiores, mas pensem se cada vez mais, imperceptivelmente, não estão tirando Kardec do Espiritismo, com a mania que alguns tem de amoldar o pensamento dele segundo as conveniências, em tentar metamorfizar o Espiritismo, que é universal, num espiritismo à moda da casa, numa palavra em um EUspiritismo.

Um comentário:

  1. Meu amigo, o espiritismo veio de um remetente homônimo ao da Bíblia; Jesus Cristo, só que mais racional, pois veio direto dele, sem paixões, sem distorções, sem apelos fantasiosos. Poder remidor, isso faz algum sentido ?. Alguém remir outro ?. Então que estamos tentando nos melhorar, já estamos perdoados mesmo ?!.
    Jesus não tem poder remidor algum, ele não veio salvar ninguém que ele não é babá de escolinha de retardados, ele veio ensinar como nós mesmos, nos salvarmos do mal e dos sofrimentos. Ele é mestre e não salva-vidas, guarda-vidas, etc.
    Procure inteligência para sua crença, encontra no espiritismo, que não é a idéia de um homem, mas uma revelação divina. O espiritismo não tem autor, foram os espíritos do Cristo, muitos deles apóstolos daquela época, ou você acha que eles pararam por alí !!!abs

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