segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Que Tipo De Espírita Você É?

Outro dia me fizeram a pergunta se eu era um espírita “místico” ou “religioso” ou se eu era espírita “ortodoxo”, como se a classificação dos espíritas estivesse apenas nesses campos ortodoxo e heterodoxo. Respondi que eu não era nem um (ortodoxo) e nem outro (místico ou religioso), mas que eu era um espírita que busca ser coerente com a doutrina e não tentar ajustar a doutrina ao que eu creio.

Poderiam dizer, mas isso é ser ortodoxo. Eu diria que a ortodoxia ideal, a sonhada está bem distante da ortodoxia real, a que se vê em quase toda a parte. Mas, de qualquer forma, a divisão não se dá entre ortodoxos e místicos, ou entre os cientificistas e religiosos como eram chamadas as vertentes na época de Bezerra e Torterolli, mas os espíritas se classificam, como foi dito por Kardec em 4 tipos:

  • O espírita experimentador
  • O espírita imperfeito
  • O espírita cristão ou verdadeiro espírita
  • O espírita exaltado

Essa divisão ou classificação dos espíritas está nO Livro dos Médiuns, capítulo III, item 28 de 1 a 4. E nela não vemos Kardec fazer referencia a ortodoxos ou místicos, as quais não considero divisões doutrinarias (pois não constam na Codificação), mas sim divisões personalísticas.

Kardec fala no item 28.1, dos espiritas experimentadores, que eram aqueles que só criam nas manifestações, nos fenômenos e para eles o espiritismo era apenas uma ciência de observação, de fatos mais ou menos curiosos. Imaginemos, na época de Kardec, vários pesquisadores em torno de uma médium apenas para ver o fenomeno e só e não se preocupar com o que poderia advir do fenômeno.

Ou mais recentemente, centenas de pessoas indo a casa de Chico Xavier, em romaria, para ver se seu filho ou filha desencarnados davam comunicação. Novamente, iam pelo fenômeno e apenas pelo fenômeno. E atualmente, temos centenas de centros espíritas com passes ao final das reuniões (sem esquecermos da água fluidificada), cujos participantes de palestras, as quais nem sempre estão atentos, aguardam ansiosamente pelo... fenômeno!

Em seguida, no item 28.2, Kardec fala dos espiritas imperfeitos, categoria a qual. Embora saibamos que todos fazemos parte, temos pudores em admitir que somos. Diz ele que são os espiritas que vêem mais do que apenas fatos e admiram a moral que decorre do espiritismo, sem no entanto pratica-la (ou alguém dirá que pratica?) E que nula ou insignificante é a influencia que exerce nas características dos seres, pois estes não alteram seus hábitos, o avarento continua avarento e o hostil continua hostil, por exemplo. Claro que não devemos tentar forçar uma reforma intima nos outros, até por que a moral é de cada um e a reforma é intima, ou seja, pertence a cada um, mas ainda assim não se pode negar que esse tipo de espírita existe e foi definido por Kardec, na Codificação.

O Codificador referiu-se, em seguida, a um terceiro tipo de espírita, o verdadeiro espírita, chamado também de espírita cristão. Sobre ele fala Kardec:

“ Os que não se contentam com admirar a moral espírita, que a praticam e lhe aceitam todas as conseqüências.”


“ Convencidos de que a existência terrena é uma prova passageira, tratam de aproveitar os seus breves instantes para avançar pela senda do progresso, única que os pode elevar_na_hierarquia_do_mundo_dos_Espíritos, esforçando-se por fazer o bem e coibir seus maus pendores. As relações com eles sempre oferecem segurança, porque a convicção que nutrem os preserva de pensarem em praticar o mal.”


“ A caridade é, em tudo, a regra de proceder a que obedecem. São os verdadeiros espíritas, ou melhor, os espíritas cristãos.”

Essa penúltima classe,a dos verdadeiros espíritas, merece comentários. Quem que se conhece que tenha sido um verdadeiro espírita? Alguns dirão “Chico Xavier”, mas será que ele aceitava mesmo todas as conseqüências da moral espírita? Será que Chico nunca sentiu raiva (um mau pendor?). Eu prefiro ver o verdadeiro espírita como um ideal ao qual todos nós devemos almejar.


E importante notar que Kardec se refere aos verdadeiros espíritas como “espíritas cristãos”. Mas, esperem aí. Kardec não disse antes que o Espiritismo não era religião? E se não é religião, como que ele chama o Espiritismo de cristão e os verdadeiros espíritas de espiritas cristãos?


Estaria Kardec se tornando místico?


Nada disso. Kardec apenas quis enfatizar que os espíritas que praticassem a moral, quer dizer os hábitos e costumes atribuídos a Jesus, também chamado Cristo, no Evangelho Segundo o Espiritismo, ou seja perdoassem, amassem o próximo, não julgassem e etc, seriam os verdadeiros espíritas ou espiritas cristãos.


Sobre essa questão de Jesus ter ou não existido de fato, publicarei um ensaio que dirão, não prova nada, mas que prova sim, como se raciocina abordando todas as possibilidades de uma questão. Aguardem.


Finalmente, chegamos ao ultimo tipo de espiritas analisado por Kardec: os espíritas exaltados. Exaltado aqui não quer dizer o espírita pavio-curto, nervosinho por qualquer coisa ou que se irrita facilmente, mas sim o espírita que aceita sem exames, facilmente tudo que provenha dos espíritos. Acompanhemos o que Kardec diz:


- “A espécie humana seria perfeita, se sempre tomasse o lado bom das coisas. Em tudo, o exagero é prejudicial. Em Espiritismo, infunde confiança demasiado cega e freqüentemente pueril, no tocante ao mundo invisível, e leva a aceitar-se, com extrema facilidade e sem verificação, aquilo cujo absurdo, ou impossibilidade a reflexão e o exame demonstrariam. O entusiasmo, porém, não reflete, deslumbra. Esta espécie de adeptos é mais nociva do que útil à causa do Espiritismo. São os menos aptos para convencer a quem quer que seja, porque todos, com razão, desconfiam dos julgamentos deles. Graças à sua boa-fé, são iludidos, assim, por Espíritos mistificadores, como por homens que procuram explorar-lhes a credulidade. Meio-mal apenas haveria, se só eles tivessem que sofrer as conseqüências. O pior é que, sem o quererem, dão armas aos incrédulos, que antes buscam ocasião de zombar, do que se convencerem e que não deixam de imputar a todos o ridículo de alguns. Sem dúvida que isto não é justo, nem racional; mas, como se sabe, os adversários do Espiritismo só consideram de bom quilate a razão de que desfrutam, e conhecer a fundo aquilo sobre que discorrem é o que menos cuidado lhes dá.”


Bom, o texto é claro sobre os exaltados, mas quem seria um exemplo de exaltado? Muitos dizem que Chico Xavier não era espírita, que era e continuou católico. Discordo em parte, pois ele era católico sim, continuou preso as tradições católicas (isso é inegável), mas não podemos esquecer que consta na codificação a categoria “espíritas exaltados”, que a meu ver se encaixa perfeitamente na figura de Chico (e de outros médiuns tambem), pois:


- Chico aceitava cegamente tudo que os espíritos lhe transmitiam, principalmente Emmanuel, pois não questionava, não verificava, não refletia ou examinava o teor das mensagens. Se falava em Jesus e amor, era o que bastava;


- A linguagem evangélica e o cenário fantasioso, que funcionou na primeira metade do século XX para alguns, perdeu muito no presente pois houve amadurecimento intelectual das pessoas que passaram a desconfiar do que Chico escrevera e mesmo a combater, provando o não espiritismo em suas obras;


- Graças a boa-fé de Chico (se não foi isso, teria sido má-fé?) ele foi iludido por encarnados (da FEB) e desencarnados pseudo-sabios que lhe exploravam a credulidade e a mediunidade.


- Isso deu armas aos incrédulos. Espírito se suja? Espírito sente fome? Espírito dorme? Espírito faz sexo? Espírito toma banho? Espírito ganha dinheiro espiritual? E por aí vai. E todos os espíritas, mesmo os que nunca acreditaram em Nosso Lar, foram ridicularizados pelo ridículo de alguns espiritas que acreditaram nisso.


E esses que acreditaram em André, em Emmanuel e outros (como Divaldo com suas "crianças Indigo e Cristal"), são oriundos de vários como os experimentadores, imperfeitos e exaltados.


Quero crer que os verdadeiros não estejam nesse grupo, pois Kardec não falou no aspecto intelectual dos verdadeiros espíritas aqui, mas falou dele em outros artigos na Revista Espírita e um destes artigos já vimos aqui (vide Kardec: - "Antes de Crer, Compreender"


Esses que acreditaram, se fanatizaram e se fanatizando passaram a idolatrar médiuns e espíritos, exatamente por não terem compreendido o Espiritismo. Esses são os chamados místicos.

Um comentário:

  1. Muito bom!
    Texto incômodo para alguns, mas irretocável...
    -irretocável? Aí é um exagero de minha imperfeição. Nem Kardec se colocou como irretocável.

    Abraços fraternos.

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